1.12.09

Cenas de um inverno que ainda não chegou

Ele ainda nem chegou, mas quando eu tenho que sair na rua num frio de 1º, já é bem inverno pra mim. E com o inverno, volta também a minha boca de Bozo, a minha preguiça e a minha vontade de ficar na cama o dia inteiro lendo, comendo Nutella ou sonhando com o calor e com a praia de Ipanema. Como nada disso é possível, eu sou obrigada a sair, enfrentar o frio do mundo lá fora e aturar cada uma...

Sobre o ônibus que nunca passa na hora

Aqui os ônibus têm timetables. Você sabe quando ele deveria sair do ponto final e quando ele deveria passar no seu ponto. "Deveria" é a palavra-chave. Eu sempre saio de casa 5 minutos antes, pra dar tempo de chegar no ponto e pegar o ônibus. Saio de casa, correndo como sempre. Olho em volta e as latas de lixo verde estavam todas na frente de suas respectivas casas. Isso significa que era dia do lixeiro dos recicláveis passar. Finjo que não vi nada e saíos em colocar a lixeira pra fora. Dou dois passos e lá vem o ônibus. Filho da puta. 5 minutos adiantado. Castigo. Volto, coloco as lixeiras pra fora, já que tinha perdido o ônibus mesmo. Saio de casa novamente, dou três passos e lá vem o ônibus de novo. O filho da puta do outro ônibus passou mega atrasado e eu pensei que fosse o meu que tinha passado adiantado. Porra de ônibus. Sempre errado. Fui obrigada a andar até o village pra pegar o outro ônibus. 15 minutos andando no frio. Adoro.

Sobre um conselho que eu vou te dar

Na minha caminhada pro village, atravesso a rua na faixa de pedestres. Um conselho que eu te dou: nunca atravesse na faixa de pedestres se ela estiver coberta de gelo.

Sobre o ônibus que continua não passando na hora, iPods e conversas indesejadas

Alguns minutos perdidos brigando com o gelo na faixa de pedestres e uma bunda quase molhada depois, continuo a minha caminhada. Chego no ponto. Teoricamente o ônibus deveria demorar cinco minutos para chegar. Os cinco minutos se passam. E mais cinco. E mais cinco. Olho pro lado. Uma cara conhecida. Finjo que não vi. Olho pro outro lado. Estou com o fone no ouvido, ouvindo Damien Rice. As principais funções do meu iPod: 1) evitar conversas indesejadas com pessoas aleatórias; 2) ouvir música (Percebeu que a música vem em segundo? Pois bem...). Continuo ouvindo a minha música e olhando pro outro lado pra evitar a troca de olhares com a pessoa aleatória e ser obrigada a travar uma conversa. Minutos depois, alguém cutuca meu ombro.

eu: (Merda!)
pessoa aleatória: Lembra de mim?
eu: Hummm...não... (Lembro, infelizmente.)
pessoa aleatória: Não lembra? Nós conversamos no ônibus um tempo atrás.
eu: Ahh...ok.
pessoa aleatória: Eu lembro bem de você porque você disse que ia no show do Michael Jackson.
eu: (Yeah, whatever. Você e o mundo inteiro, meu bem.) É, ia. (Pronto, acabou a minha paz.)
pessoa aleatória: Eu ia no show do Elton John, mas ele tava doente.
eu: Pelo menos ele não morreu.

[blá, blá, blá no meu ouvido.]

eu: Tá um frio do cacete e essa merda desse ônibus não passa. Só não atravesso a rua e pego o trem porque eu tenho certeza que a hora que eu sair daqui o ônibus vai passar e o trem vai sair assim que eu chegar lá. (Acreditem, já aconteceu algumas vezes.)

Eu A-D-O-R-O pessoas aleatórias que vêm falar comigo no ônibus, no ponto, na rua, no elevador, no consultório do médico ou em qualquer outro lugar no qual você não deveria estar falando, e sim se locomovendo ou esperando por alguma coisa. E eu adoro ainda mais quando essas pessoas ignoram o fato de que eu tenho um fone no ouvido, portanto não estou afim de conversa. E estou ainda menos afim de conversa quando estou ouvindo Damien Rice, o que significa que estou num mau humor de níveis astronômicos. Mas ainda assim as pessoas vem falar comigo. Eu tenho cara de que quer ouvir a história da sua vida? Vai procurar um terapeuta, cacete!

(Pode falar que eu sou rabugenta. Eu sei que você quer falar.)

Sobre buracos na parede

Enfim, o ônibus chega. Por causa da chuva e dos alagamentos (Tá pensando que é só no Brasil?), várias ruas estão fechadas e o motorista é obrigado a dar a volta ao mundo pra chegar no centro da cidade. Eu vou ouvindo Damien Rice em paz novamente e olhando lá pra fora. De repente vejo uma placa com o nome da rua, ou melhor, estrada - Hole in the Wall Road. Até páro de prestar atenção na música. Olho em volta e procuro o buraco. Nada de buraco. Aliás, nada de parede. Fico pensando de onde tiraram esse nome tão criativo.

Sobre mendigos de primeiro mundo

Voltando pra casa, sou obrigada a comprar alguma coisa pra poder trocar o dinheiro e ter moedinhas pro ônibus. Entro na loja de €2 e compro um Toblerone gigante. Saio de lá colocando o Toblerone na mochila. As moedas caem no chão. Vem uma mulher correndo pra cima delas. Eu sou obrigada a ir brigar com a mulher pelas minha moedas, afinal é o dinheiro certo pra eu pegar o ônibus, que já está no ponto, pronto pra sair em 7 minutos.

mendiga: Eu quero pegar o trem pra Limerick. Me dá as moedas?
eu: E eu quero pegar o ônibus pra Malahide. Tenho dinheiro não. Sorry.

A mulher insiste e abre a mão, crente que eu vou dar as minhas moedinhas pra ela ir pra Limerick. Era só o que me faltava, eu brigando com mendiga de primeiro mundo pelas minhas moedas pra pegar o ônibus. E pensar que algumas semana atrás eu tava apertando a mão do Primeiro Ministro da Irlanda. É a vida...

Sobre xaropes de nome peculiar

Pra terminar, o inverno também traz a minha gripe semanal de volta. E com ela, a tosse. E com a tosse, xarope. Aí eu sou obrigada a tomar o xarope de nome Exputex.

(Faz a piadinha. Eu sei que você quer fazer.)

20.11.09

La main d'Henry

14 de outubro - Primeiro jogo do knockout para a Copa do Mundo entre Irlanda e França, aqui em Dublin.

Eu esperava ver o jogo na televisão e já estava bem contente com essa opção, já que as televisões daqui de casa são de um tamanho bem considerável. Mas de repente, eis que cai no meu colo um convite para assistir o jogo no Croke Park. Camarote. VIP. Comida e bebida liberadas. Tá bom pra você? Porque pra mim já estava ótimo.

Em condições normais, eu torceria para a França. Mas os bleus sem Zidane já não têm o mesmo charme, ainda que contem a presença de Henry (que veio a ser inimigo público número 1 na Irlanda). Assim sendo, me resta torcer pelos amigos irlandeses, mesmo sabendo que a chance de irem para a copa enfrentando a França era quase nula.

É engraçado assistir a um jogo em que a seleção para a qual você está torcendo é o underdog. Porque nós brasileiros estamos acostumados a ser sempre os favoritos. É claro que de vez em quando alguém resolve ter convulsões antes do jogo ou ajeitar o meião bem na hora de uma cobrança de falta e acaba com as nossas esperanças de mais um título.

No início eu estava tentando me conter e não demonstrar tanto a minha empolgação por estar vendo Henry, Abidal, Gallas, Diarra e cia jogando bem ali na minha frente. E ao lado deles, em verde, Robbie Keane, Shay Given e os outros 9 são os famosos quem? Vai saber! Mas ao longo do jogo eu fiquei contagiada pela animação irlandesa. O estádio tomado em verde, os torcedores apoiando o time, mesmo depois do gol da França. Eu me senti um pouco como se estivesse naquele filme "Jamaica Abaixo de Zero". Já viram? É sobre uns jamaicanos que resolvem competir no bobsled nas Olimpíadas de Inverno. Então, jamaicanos estão para bobsled assim como irlandeses estão para futebol.

A partida terminou 1x0 para a França, mas como dito antes, já era de se esperar. Como irlandês não perde a oportunidade, ele bebe se ganhar e se perder. Além do camarote, e da comida e da bebida liberadas, ainda me dão uma pulseirinha escrito "President's Post Match Reception". Só para VIPs, meu amor. Chego eu na recepção, tomando a minha Coca-Cola e de repente me dizem "Tá vendo aquele ali? Ele é esse cara aqui do pôster. Ele era capitão da seleção irlandesa." Daqui a pouco outro "Tá vendo aquele outro? Paul McGrath, outra lenda do futebol irlandês. E aquele outro ali é o presidente da FAI." E eu ali no meio daquela gente toda e conversando com um senhor bem simpático, que me disse que já foi ao Rio, que todo mundo vai à Copacabana, mas que ele adorou Ipanema. Ainda conversamos sobre futebol e sobre os meus estudos, e eu achando que aquele era só mais um irlandês qualquer simpático. Já deveria eu saber que ninguém ali naquele salão era um qualquer. Eram vários irlandeses importantes e uma brasileira perdida no meio deles. Depois eu fui saber que aquele senhor simpático é um dos ministros da União Européia e que o avô dele foi um dos fundadores da Irlanda e que ele é considerado "political royalty". Tá bom pra você? Porque pra mim assistir jogo de camarote, estar no "President's Post Match Reception", ver jogadores e conversar com um ministro já estava mais que ótimo. Mas tem mais. Estava eu conversando com o meu amigo "political royalty" quando aparece um gorducho com cara de Jabba The Hut. Aí me jogam pra cima do Jabba e dizem "Vai tirar uma foto com ele." E eu "Por que? Quem é esse homem?" *santa ignorância* "É o Primeiro Ministro da Irlanda" "Ahhhh...tá." E foi assim que eu conheci o Primeiro Ministro da Irlanda. Existem milhares de random brasileiros na Irlanda. Muitos mesmo. Quantos desses milhares conheceram o Primeiro Ministro da Irlanda? Provavelmente um: eu! E o Jabba foi simpático também e mais uma vez conversamos sobre o Rio e futebol. Força do hábito.

E eu que só ia ver a partida pela televisão...

18 de outubro - segunda partida do knockout para a Copa do Mundo entre França e Irlanda, lá em Paris.

Dessa vez não teve camarote no Stade de France. Já é querer pedir demais. Um pouco mais de 60 milhões de franceses torcendo para os bleus lá na França e um pouco mais de 4 milhões de irlandeses, alguns milhares de brasileiros que não conhecem o Primeiro Ministro e eu, torcendo aqui.

A missão era bem difícil, quase impossível. Ganhar da França no Stade de France é uma missão para brasileiros, italianos, talvez até (argh) argentinos, mas nunca Irlanda. Ainda assim eles foram com toda a vontade do mundo e marcaram um gol, e não esqueçamos, a esperança é verde. Por quase o jogo inteiro eles acreditaram na Irish Luck e que eles iam pra Copa. Até o Henry meter a mão na bola e acabar com o sonho irlandês. E é isso, acabou a estória. Nada de Irlanda na Copa. Henry inimigo público número 1 do país.


E sabe como os irlandeses choraram as mágoas por não irem à Copa? Um brinde pra quem adivinhar.

11.11.09

Eu sei o que você fez no apagão passado

Gente, fiquei boba! 15 estados no escuro e ainda carregaram o Paraguai junto?

Bom, enquanto vocês estavam aí às escuras, eu estava aqui bem no conforto da minha cama, assistindo o meu episódio semanal de Dexter. Aí hoje eu acordo e vou ler minhas notícias/blogs/whatevers no Google Reader e fico sabendo que teve gente que não conseguiu colher sua plantação em Farmville, que a Lu foi da Gávea ao Méier no breu, que a Patrícia acha que a culpa é toda da Madonna, e por aí vai. Fiquei me sentindo meio left out.

Aliás, ainda estou esperando um email da minha mãe dizendo "Você não sabe da maior! Teve o maior apagão aqui. A América do Sul inteira sem luz!" - Porque sempre que a minha mãe diz "você não sabe da maior" é porque alguém morreu ou algo bizarro aconteceu. E ela vai dizer que foi a América do Sul inteira porque ela tem uma certa tendência a aumentar as coisas.

Encontrei essas camisetas super simpáticas, que eu não poderei usar, já que não compartilhei do evento. Mas tudo bem, eu nem queria mesmo.






E você? Twittou no apagão passado?

Eu não.
 
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